Não param de tentar vender-nos burros

Lisboa, um recanto do Parque Mayer / 2013

Hoje estive no Parque Mayer, 40 anos depois de ali ter actuado, integrado no elenco do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) que em 1973 levou à cena "O Asno", peça de José Ruibal, encenada por Fernando Gusmão. Eu representava o papel de um adolescente que vendia azeitonas pelas ruas da cidade e que acabou mobilizado para uma guerra (de subjugação colonial) onde viria a morrer. Se a memória não me falha,  o TEUC, nessa deslocação a Lisboa, muito pouco aplaudida pela crítica que não valorizou minimamente as contingências da acção de um grupo de teatro universitário a viver num regime político sem liberdade de expressão, actuou no Teatro Variedades, um teatro que atravessou quase todo o século XX e que ainda resiste, pelo menos como memória arquitectónica e como memória de um teatro que durante dezenas de anos tentou divertir o público, quase sempre enfrentando a Censura aos textos e às próprias encenações, com as dificuldades causadas pela perda de muito dinheiro se os espectáculos eram proibidos. Voltando ao Asno, recordo que a cabeça de cartaz desta peça de José Ruibal era um burro electrónico que um gigantesco Tio Sam tentava impingir aos portugueses. Quarenta anos depois, ainda há quem continua a querer vender-nos alguns burros.