Explicação de alguns desacontecimentos

Sem ângulos mortos / Lisboa e Avenida da Liberdade

Mortes à parte, sempre estive muito mais próximo de Moritz Stiefel, personagem (que nunca representei) de um adolescente inseguro que se suicida em “O Despertar da Primavera”, de Frank Wedekind, do que do soldado Woyzeck, o anti-herói da peça de Georg Buchner, cujo papel assumi, sob a direção de Julio Castronuovo, no Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, em 1972, tão intensamente que ainda hoje, quarenta anos depois, continuo a identificar-me como Roldeck. Buchner, que morreu antes de finalizar Woyzeck, considerada a sua obra prima, não deixou indicações sobre o fim deste personagem, cujo improvável suicídio é sugerido em algumas encenações, apesar do verdadeiro soldado que inspirou a peça ter sido condenado à morte, por decapitação, como pena pelo assassínio da companheira.