arquivo > junho de 2013

O que parece também é

Classificação Final da Moodys

Conta-se que um prestigiado advogado, democrata que sempre lutou contra a ditadura, vendo que um juiz parecia dormitar durante a alegação final quis manifestar desagrado calando-se de repente a provocar um silêncio que acordou o dorminhoco magistrado. "Faça favor de continuar, senhor doutor", disse o juiz sem adivinhar que o advogado lhe diria, de imediato, que apenas pretendia evitar que o juiz pudesse perder as palavras que ele proferia. "Estive sempre muito atento às suas palavras", retorquiu repetindo, para dar força a esta garantia, a frase onde tinha sido interrompida a intervenção final do advogado. Mas a resposta não se fez esperar e o advogado, reiterando que nunca duvidou de tal, sublinhou que num formalismo de um tribunal, tão importante como ouvir é parecer que se está a ouvir. Isto, que se aplicou a um juiz, poderia também aplicar-se a um ministro, relativamente à capacidade de diálogo com aqueles que discordam das opções ministeriais. No mínimo seria desejável que parecesse que o ministro quer dialogar. Por muito menos, em países do Primeiro Mundo e até em alguns países do Terceiro Mundo, vários ministros já foram demitidos.

Lamas ventrais do Génesis

Douro

A quem pertence aquele olhar, cravado numa máscara de ouro, com a elegância de um nariz em alto relevo, ou seja, para dentro, como se não existisse e como se a sua inexistência pudesse anular o cheiro a morte que emana das lágrimas angolanas dos anos 60 do século passado, lágrimas recolhidas pelo escultor José Rodrigues, agora finalmente expostas para prender muitos novos olhares, incluindo o olhar daquela máscara? Talvez num percurso mais intuitivo para quem entra pela porta da frente do Convento, aquelas lágrimas antecedam as criaturas em barro que o escultor arrancou, nas palavras de César Príncipe, às lamas ventrais do Génesis. criando criaturas à sua imagem e semelhança, assim geradas, mais do que criadas como na oração, por ter esse ofício do artista escultor, ofício que, sem sombras de blasfémia, está muito próximo do de Deus.

Memória num infográfico

Falsa porta velha, Vale Florido / JR 2013

A edição deste fim de semana do jornal  i, que ainda compro em papel, trazia um interessantíssimo infográfico a assinalar todos os clubes que jogaram na primeira divisão ou liga do futebol português, dos poucos que sempre a disputaram aos que apenas o fizeram numa única  época.  Foi o caso do União de Coimbra, na época de 1972/73, por coincidência época em que a Académica de Coimbra desceu à segunda divisão. No União jogavam mais estudantes da Universidade de Coimbra do que na Académica e a festa da subida transformou-se numa quase manifestação estudantil contra o regime. Eu, à data estudante em Coimbra, estive a festejar na Praça 8 de Maio e guardo uma memória vaga de uma intervenção policial a reprimir as escondidas intenções dos festejos estudantis pela subida do União e pela descida da Académica.