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Sem carta de chamada

A senhora minha mãe, que este ano completaria cem anos se não tivesse partido no ano passado, sonhou a vida toda com o Brasil, país para onde quis emigrar mas que nunca chegou sequer a visitar. Enquanto solteira e antes de ir trabalhar, queria partir para o Brasil, mais precisamente para São Paulo, onde viviam uns tios que aí fizeram fortuna. Mas os tios ricos da América (América do Sul, entenda-se) nunca lhe enviaram a “carta de chamada”, o documento indispensável para poder fugir dos “horizontes pequenos” que durante tantos anos amarraram Portugal, e ela morreu com saudades de uma cidade que nunca visitou.