arquivo > setembro de 2015

Não há dois setembros iguais

cartaz de exposição no Centro G. Pompidou (pormenor)

Em Setembro de 1988, enviado a Paris para reportar uma visita de Mário Soares, tive o privilégio de assistir, no Grand Palais, à vernissage de uma exposição da pintora Helena Vieira da Silva, com direito a visita guiada pela própria pintora, ao lado do presidente francês François Mitterrand, do presidente português Mário Soares, dos ministros franceses Jack Lang e Roland Dumas, do casal Azeredo e Madalena Perdigão, dos embaixadores Gaspar da Silva e José Augusto Seabra e de Eduardo Prado Coelho. Nessa rentrée, Jack Lang ofereceu um jantar a Mário Soares, onde uma das estrelas foi Isabelle Huppert, que tinha acabado de receber em Veneza um prémio de interpretação feminina pelo papel no filme “Une affaire de femme”, de Claude Chabrol. Foi também nesse mês de Setembro que Rosa Mota ganhou a medalha de ouro da Maratona feminina dos Jogos Olímpicos de Seoul. Não há dois setembros iguais, como, mais uma vez, podemos descobrir.

Abertura para novas viagens

Ícone manufacturado sob a técnica dos antigos ícones gregos / 1988

Parafraseando Almeida Garrett na abertura das Viagens na Minha Terra, alargo os horizontes, movimentando-me ainda menos do que aqueles que julgam não poder ir além de umas voltas à roda do seu quarto.  O meu novo ícon grego, na linguagem dos especialistas em tecnologias de informação e comunicação (TIC), chama-se World Wide Web, vulgo Internet, e foi uma herança de militares que desenvolveram essa avançadíssima rede de comunicações, muito provavelmente já substituída por outra, mais avançada, numa actualização que proporcionou a abertura da primeira rede à sociedade civil. Com estas ferramentos vamos ao fim do mundo sem sair da cama, e tornamos mais visível o que parecia mais invisível.

Na nostalgia do papel impresso

Nostalgia na Rua do Almada, Porto / foto JR 2015

Esta minha necessidade permanente de escrever, levemente apaziguada pelos suportes das modernas tecnologias de informação, sem que se apague totalmente a nostalgia do papel, incluindo o que era impresso a quente, no chumbo dos velhos caracteres moveis de Gutenberg, esta minha compulsiva vontade de escrever outros escritos, incluindo manuscritos ficcionados que povoam as vivências que guardo na memória,  repudia qualquer desprezo pelo jornalismo, de que me libertei há dez anos, mas reafirma-se como um sonho por cumprir.

Serendipity no desejo de ser inútil

Aguarela de Hugo Pratt (pormenor)

"O desejo de ser inútil" é o título da biografia de Hugo Pratt, o criador de Corto Maltese, na tradução portuguesa da Relógio d'Água. O tradutor, António Sabler, que assinou a tradução há pelo menos 20 anos, falou-me hoje do livro, numa paragem de autocarro, sem me conhecer e só pelo facto de eu estar na mesma paragem com um pequeno livro de Hugo Pratt. "Conhece a biografia de Hugo Pratt?". Respondi sim e disse que tinha gostado muito de a ler. No seguimento da conversa, ele assumiu-se como o tradutor da obra para português. Mais tarde confirmei o nome de quem fez a tradução e, por uma fotografia colocada na Internet, identifiquei-o como sendo realmente o tradutor. Foi o que se chama uma "serendipity", uma positiva, breve e inesperada ocorrência. Mais provável de acontecer numa cidade.