arquivo > julho de 2017

Ninguém quer ficar triste na fotografia

Baixo relevo no portuense jardim do Marquês (pormenor)

Há dias, alguém reparou no olhar triste do Manequim do Mar, um manequim trabalhado pelo pintor José Emídio no âmbito de um desafio colocado a vários artistas pela Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Nunca tinha reparado na tristeza daquela escultura, talvez por sempre a olhar apenas como um manequim, maquilhado, e não como uma peça escultórica que realmente é. Mas olhando-a com olhos de ver, acabei reconhecendo que o Manequim do Mar tem um olhar triste, sendo certo que essa tristeza, recriada pela intervenção de José Emídio, é a exacta medida da obra de arte em que se transformou aquele manequim produzido em série numa fábrica de manequins. Na sequência desta observação, comecei o olhar melhor para muitas manifestações de arte que vivem na cidade, muitas delas também de alma triste, embora ninguém queira ficar triste aos olhos dos outros.

Clérigos, Ponte e Cubo da Ribeira

Porto seguro / Júlio Roldão (estudo para uma apresentação)

Há dias, numa celebração de amigos que recordavam um amigo comum, ouvi, pela voz de Paula Oliveira, esse notável fado de José Carlos Ary dos Santos (poema) e José Luís Tinoco (melodia) denominado "Um Homem na Cidade". Ocupou, para a minha geração, que é aquela que tinha 20 anos quando aconteceu o 25 de Abril de 1974, o pódio do renascimento do fado, há 40 anos pela voz de Carlos do Carmo. Mas Paula Oliveira também sabe agarrar essa madrugada de que fala o poema do Ary dos Santos, e dar-lhe uma renovada força como hino às cidades que sabem ser espaços de Liberdade. A cidade deste trabalho é Lisboa, mas podia ser o Porto que também é uma cidade da Liberdade. O meu Porto, o meu porto seguro que temos sempre de aprender a gostar.