arquivo > janeiro de 2013

Uma prova de vida incontornável

Manequins numa montra de saldos / Foto JR 2013

Estar ou não estar no Facebook é quase uma questão de vida ou de morte, de visibilidade ou de obscuridade, de afirmação ou de negação... O Facebook é tão importante que a notícia das performances facebooquianas do último trimestre de 2012 (quem lá vai e como lá vai) correu mundo só pela curiosidade de se saber que o acesso via dispositivos móveis, superou, pela primeira vez, o acesso tradicional via computador. O número de utilizadores activos ultrapassou já os mil milhões,  618 dos quais de acesso diário. Reconheço hoje que estar no Facebook é uma prova de vida incontornável, e admito que até deveria "postar" cinquenta vezes seguidas no Facebook esta verdade, como castigo pelo meu tardio reconhecimento destas redes.

Pelo Turismo é que vamos

distanciamento quase brechtiano

Anteontem, no Hotel Altis Belém, com a presença de três ministros, Paulo Portas (de Estado e dos Negócios Estrangeiros), Miguel Macedo (da Administração Interna) e Álvaro Pereira (da Economia), foi apresentado um programa de promoção no estrangeiro do imobiliário português com vocação para o turismo residencial que está a mobilizar instituições do Estado e associações empresariais. Ontem, no Palácio das Necessidades, com a presença de apenas dois ministros, Portas e Macedo, foram apresentados os incentivos que o Governo de Portugal está disposto a conceder aos estrangeiros que invistam acima de determinads valores na aquisição de património imobiliário. Será que pelo turismo residencial é que vamos?

Ser portuense e olissipófilo

Rua nas proximidades do Palácio das Necessidades / Foto JR 2013

Assisti hoje, em Lisboa, mais precisamente no Palácio das Necessidades, sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros, a uma apresentação, pelos ministros Paulo Portas (Negócios Estrangeiros) e Miguel Macedo (Administração Interna), do chamado visto de residência para grandes investidores estrangeiros em Portugal. Trata-se de um programa que contempla, asseguradamente durante pelo menos dez anos, incentivos excepcionais para estrangeiros que façam investimentos sólidos e significativos em Portugal, nomeadamente no sector imobiliário. Até eu, que sou e vivo no Porto (e assumo com muito orgulho a minha naturalidade), não desdenharia viver numa cidade com a luz de Lisboa. Quanto mais quem vive muito mais a Norte, tem muito mais poder de compra mas não tem Sol, nem consegue ver a laranjeira a crescer ou enxergar uma nesguita de um rio como o Tejo, numa dádiva extra da janela do quarto.

Laptop Magalhães dá a volta ao Mundo

banjo na caixa do banjo

O computador portátil Magalhães, de design e tecnologia portuguesa, continua a justificar o nome do navegador português com que se apresenta e a cumprir outras navegações à volta do Mundo, como aquela que Fernão de Magalhães iniciou em 1519. Espera-se que este "laptop" tenha mais sorte que o seu padrinho - Fernão de Magalhães não conseguiu concluir a primeira volta ao Mundo por mar, mas o mini computador portátil, cuja relação preço qualidade é fortíssima, está a superar a missão para a qual foi criado, equipando não apenas as mochilas dos estudantes mais jovens, em muitas partes do Mundo, como também os operacionais de algumas forças paramilitares do Reino Unido, entre outros utilizadores. Isto foi hoje notícia na principal estação de rádio portuguesa, mas merecia uma divulgação mais global. 

Lisboa mediterrânica? Why not ?

Palácio velho de Palma de Maiorca

Conheci hoje um velho jornalista estrangeiro que regressa a Lisboa, mas já não em serviço por estar retirado. Não sei que nacionalidade terá mas sei  que a língua pátria dele é o Inglês. No nosso encontro falamos de Wim Wenders e do filme que esta cineasta alemão realizou, em 1994, sob o título "Uma História de Lisboa". Descobri que ele fala muito melhor o Português do que eu o Inglês, o que deu para estabelecer uma conversação interessante . Ele gosta mesmo e sabe muito de Portugal. Só não percebi a razão pela qual ele insistia em perguntar pela génese da ideia de colocar Lisboa como uma cidade mediterrânica. Lisboa mediterrânica? Why not ?

Memórias sentidas pelos meus pés descalços

Palma, Maiorca /2012

Descalço em Cienfuegos, Cuba, a chapinhar o centro histórico da cidade numa tarde de chuva intensa e morna, guardo um perfume de terra molhada que também faz parte do património do Caraíbe. E recuo até à minha primeira memória, quando tinha pouco mais de dois anos de idade, memória que é a difusa sensação de andar descalço, pela casa dos pais, agarrando numa das mãos um par de sapatos que jamais largava e que às vezes até levava à boca para roer a sola, de borracha e rugosa. Eis algumas das memórias dos meus pés descalços.

 

Noite de salsa e bachata no Sabor Latino

árvores nuas ao frio

Dificilmente serei apanhado num estádio de futebol, numa igreja ou numa discoteca com orquestra privativa. E se algum dia vender perfumes fa-lo-ei exclusivamente em frascos pequenos. Já não digo que os jogos de futebol ganham-se no meio campo. Com um dos meus filhos, descobri que os processos científicos conferem capacidade para trabalhar com código e método para elaborar pesquisas. E já não tenho a certeza da existência de sábios da Renascença vivos. Mais importante do que descobrir se ainda há sábios da Renascença é a procura da resposta. Talvez a encontre nas aulas de salsa no Sabor Latino. De salsa ou de bachata.

 

O país real na televisão pública

Talha de azeite

A televisão pública olhou hoje para a notícia do adiamento da respectiva privatização por todos os ângulos, com um duplo olho de peixe que perfaz 360º a cores. Antes tínhamos visto um directo transmitido a partir de uma pequena vacaria da Região Centro onde, por falta de energia eléctrica, na sequência do temporal que assolou o país há uma semana, ainda há aldeias inteiras onde os alimentos congelados nas arcas frigoríficas ficaram impróprios para consumo e onde há vacas que sofrem por não serem ordenhadas. Aprende-se mais sobre o país real nestas reportagens, de forma oculta, do que sobre a realidade das crianças em perigo numa reportagem que quase só foca o momento, sempre adiantado e nem sempre de análise serena, em que já não há outra solução que não seja a institucionalização das próprias crianças.

Um copo de cerveja que nunca viu cerveja

"Aqui longe do Sol que mais farei // Senão cantar o bafo que me aquece ? // (...)

Partiu-se o penúltimo copo de cerveja da Erdinger que tinha trazido de Munique como lembrança do dia da inauguração do novo aeroporto. Esses copos têm gravada a data de 12 de Maio de 1992, dia central de uma semana de festa para as centenas de jornalistas convidados pela Lufthansa. Eram mais os jornalistas presentes nos festejos do que os manifestantes alemães que ensaiaram protestos contra o impacto ambiental que o novo aeroporto causava na região. Lembro-me de ter sido um dos poucos convidados (admito, sem certeza, ter sido o único) a comparecer a uma programada, mas pouco concorrida, visita guiada para jornalistas ao Museu da Ciência de Munique. E lembro-me também de ter testemunhado, com alguma perplexidade, a ofensa que o director do museu sentiu por tanta ausência. Desse museu retenho a imagem, para mim impressionante, de um pêndulo de Foucault. Dessa viagem resta ainda um copo de cerveja, que nunca viu cerveja na vida e que serve para guardar pincéis para aguarela e para caligrafia chinesa.

Moleskines vermelhos parecem passaportes

Recortes de jornais e outras coisas mais

Os cadernos vermelhos de folhas lisas da marca Moleskine, que se vendem em conjuntos de três, cadernos de 9 por 14 centímetros, com 64 páginas, metade das quais em folhas destacáveis, parecem autênticos passaportes. Possuem sensivelmente a mesma largura dos passaportes sendo apenas ligeiramente mais altos. Tenho sempre um desses cadernos passaporte comigo - ajudam-me a viajar quando estou preso em casa, no escritório ou até num desses não-lugares de eleição como estações de caminhos de ferro ou aeroportos internacionais. Também não dispenso uma boa esferográfica, de boa tinta, como por exemplo as Caran d'Ache. Agora que a minha carteira profissional de jornalista está por renovar posso referir estas marcas sem atropelar o estatuto profissional. E faço-o porque realmente não conheço melhor tinta de esferográfica do que a da Caran d'Ache (não desbota sob os efeitos das aguarelas) nem passaportes como os Moleskine.

Mau tempo faz-nos respeitar mais a Natureza

Um caminho em Coimbra, na Quinta das Flores

Sem assumir qualquer regra na periodicidade destas notas pessoais, tento alimentar diariamente esta Escrita Clara, o que foi literalmente impossível ontem por ter estado na Região Centro, onde o mau tempo que tem fustigado Portugal causou (e ainda causa) sérias dificuldades no fornecimento de energia eléctrica e nas telecomunicações, incluindo as comunicações de dados. Tudo isto para reconhecer que a nota sobre os postais para endereços desconhecidos só entrou na rede hoje, dia 21, e não no dia 20 conforme consta. A Natureza não se limita a encerrar portos e aeroportos, cancelando viagens marítimas e outros voos. A Natureza também pode atrasar o mundo virtual, o que só faz aumentar o respeito que lhe devemos.

Postais para endereços desconhecidos

Vale Florido à chuva e ao vento

Tenho vindo a adoptar, nos últimos tempos, um passatempo que está a tornar-se um hábito, o vício de aguarelar esquissos grosseiros ou de misturar recortes de jornais numa qualquer "assemblage" cujos suportes mais habituais são papeis de aguarela preparados para serem enviados pelo correio como postais ilustrados, preferencialmente depois de "ilustrados" com os tais esquissos aguarelados ou com as tais "assemblages" de recortes de jornais e de outras coisas mais. Ando sempre com alguns desses postais, com um ou dois cadernos moleskine, com uma caixa de aguarelas própria para quem anda em viagens e com um ou dois pinceis que têm depósito de agua, além de um tubo de cola e do inevitável cartão suíço da Victorinox, com canivete, tesoura e outras ferramentas. O que nem sempre tenho é a morada de alguém a quem queira enviar o postal.

Canto e Contracanto

Folheando Pleats Please, um album da Taschen

Remexendo nos objectos da minha colecção de recoletor que jazem adequadamente numa velha caixa de sapatos, descubro, vindo literalmente do tempo do chumbo, uma espécie de carimbo com um verso de um poema de José Saramago que Luís Cilia musicou, cantou e gravou ainda no exílio de Paris. Só há dias descobri quem é o autor do canto e contracanto que serve de título ao poema e que serviu de título a uma pequena notícia publicada num espaço dito cultural que orientei, nos idos de 1980, no Diário de Coimbra. Guardei, durante estes anos, esse verso e esse título composto em chumbo, três palavras que atribuía ao Luís Cilia e que abrem um poema de novo estranhamente muito actual - "Aqui longe do Sol que mais farei ... "

A roupa de marca que nos despe

Vermelho, negro e ouro em parede branca

Ocasionalmente, fiquei preso num texto sobre a roupa que o estilista Issey Miyake criou e cria sob a marca Pleats Please. Retive que é uma marca com preocupações de funcionalidade cujas peças, por exemplo, podem ser atiradas de qualquer maneira para uma pequena mala de viagem sem ficarem engelhadas, ou seja, sem perderem condições para serem usadas de imediato. Também retive que quem veste tal roupa pressente-a como uma leve e esvoaçante protecção que reinventa formas, despindo mais do que vestindo, numa ruptura quase total com todas as convenções que colamos ao vestuário. O segredo está - pressinto-o - muito mais no que se retira do que naquilo que, tantas vezes de forma gratuita, acrescentamos. Em tudo, não apenas na roupa de marca.

Um quase sopro de Liberdade

roupa interior / JR técnica mista

Ocasionalmente vi e li parte de um trabalho que a minha filha, estudante num mestrado em ilustração, está a elaborar, tendo registado na minha memória a legenda de um desenho a representar uma bailarina de caixa de música que sai do seu pedestal para vir fumar um cigarro, sentada num dos extremos da própria caixa, com as pernas de fora. Na legenda  lê-se que a bailarina, "farta de estar condenada a dançar sempre ao ritmo da mesma melodia que invariavelmente vai diminuindo de rotação até parar (se não voltarem a dar-lhe corda)", resolveu sair para fumar um cigarro, o que - volto a citar - "nestes tempos de abolicionismo tabágico é quase um sopro de Liberdade". Quem diria que estamos, de novo, condenados a que os sopros de Liberdade sejam apenas os que expelem fumo de cigarros.

Papeis de vinte e cinco linhas

Lisbon by Night / JR (técnica mista)

A diferença entre o Terceiro e o Primeiro Mundo, é que no Terceiro há gente que põe anúncios em jornais a anunciar carros em segunda mão como novos, vendendo um chaço com documentos recuperados na antecâmara do abate de veículos em fim de vida por pequenas fortunas e sem  legitimidade para proceder à venda, por não serem titulares da propriedade do veículo em causa. Depois, no Terceiro Mundo, percorre-se a via sacra dos burocráticos papeis de vinte e cinco linhas para tentar repor a segurança e a transparência dos negócios, desafios que, no Terceiro Mundo, exigem uma grande vigilância dos cidadãos. Só no Terceiro Mundo, claro, que fica longe, muito longe, do nosso bairro. Ou tralvez não. 

Gosto de esquartejar jornais

Página dupla de Moleskine / colagem de Júlio Roldão

Às segundas gosto de esquartejar a revista Actual que sai no semanário Expresso. Foi o que aconteceu ontem com a mais recente edição da Actual, que ostenta na capa um autorretrato do entrevistada da semana, o pintor Júlio Pomar. É a segunda vez que cito, nesta escritaclara, este pintor, cuja obra e percurso de cidadão admiro. Nesta entrevista concedida a Cristina Margato, a entrevistadora recorda uma declaração de Pomar a dizer "que nas telas apenas destapava o que lá estava" e o pintor fala na descoberta do que não é imediatamente visível. Um dos momentos altos de uma conversa com um artista que confessa ter vindo a perder certezas com a idade.  Um dos pedaços que guardei no Moleskine de leitura dessa Actual.

O regresso da Censura

Paris de novo ocupada

Começou hoje, no Palácio Foz e sob o patrocínio do Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho, uma conferência subordinada ao tema “Pensar o futuro – um Estado para a sociedade”. O local não podia ter sido mais bem escolhido: o Palácio Foz foi sede do Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo, vulgo Secretariado Nacional de Informação (SNI), anteriormente denominado Secretariado da Propaganda Nacional, organismo criado por Salazar em 1933 por sugestão de António Ferro. Como antigamente, a Imprensa foi impedida de reportar os trabalhos e só poderá reproduzir o que ali seja dito e venha a ser do conhecimento da própria Imprensa com prévia autorização dos oradores. Não é ainda o regresso da Censura mas é o regresso do Exame Prévio, que é um eufemismo para Censura.

Ao que parece o FMI falhou muitas

Melhor do que o IKEA em poupança de espaço

Começam a ser reveladas algumas falhas grosseiras nas sugestões do FMI para a refundação do Estado Português. Na Educação, são utilizados dados com mais de dez anos, completamente desactualizados, e na saúde apresentados como verdadeiros números claramente falsos, como por exemplo os que garantem que os salários dos médicos portugueses são superiores aos dos alemães, dos italianos e dos noruegueses, o que não corresponde à verdade pelo menos no que à Alemanha diz respeito. O FMI também distorce, por desconhecimentou ou má fé, informações no que toca à actividade laboral da população sénior -  os portugueses já estão no topo da escala dos que trabalham até idades avançadas.

(...) olarilas nas alturas (...)

Janela sobre um páteo / Foto JR

Maria de Vasconcelos, uma médica que já fez televisão e rádio e que agora também compõe e interpreta canções para a infância, esteve ontem à noite no Herman 2013, programa da RTP 1, onde foi convidada a apresentar, em primeira mão, um dos originais do próximo disco. Ao fazê-lo, a autora, que se acompanhou a si própria à viola, teve uma breve branca num verso da letra da canção escolhida - falhou-lhe uma loja de fantoches num centro comercial -, mas aguentou-se, com naturalidade e no tom e no ritmo, até recuperar a fala. Este profissionalismo fez-me lembrar uma situação vivida no estrangeiro por um grupo coral de estudantes de Coimbra, quando um solista também se esqueceu de um verso e o substituiu, na hora, por um improvisado olarilas nas alturas que o público, desconhecedor do Português, terá aceitado na perfeição. Mais difícil foi o esforço dos demais coralistas em conter um riso inoportuno.

lisboncorrespondent ponto com

Rossio, Lisboa 2010 / Foto JR

Lisboa é uma das grandes cidades do Mundo. Bem podia ser escolhida para palco de um filme de Woody Allen como os que este realizador dirigiu pelas ruas de Roma, pela noite de Paris ou na mediterrânica Barcelona. Lisboa é também uma cidade de alma mediterrânica, como Roma ou como Barcelona, embora tenha nascido no Atlântico. Diria que é a última cidade do Mediterrâneo. Se alimentasse um espaço de informação global para a Internet, em inglês, chamar-lhe-ia lisboncorrespondent e tentaria que ele adoptasse a matriz de um diário de um jornalista estrangeiro completamente apaixonado pela luz desta cidade capital, que já foi um dos centros políticos do Mundo e continua a ser um dos grandes destinos para qualquer viajante.

cadernosdeviagem ponto pê tê

Gerês 2012 / Foto JR

Adquiri esta semana um domínio na Internet que jamais julguei ainda estar disponível. Trata-se do domínio cadernosdeviagem.pt, endereço sob o qual pretendo desenvolver um projecto comunicacional inspirado nos livros de artista em geral e nos cadernos de viagem em particular. Viverá muito de colagens, de aguadas sobre esquissos a esferográfica e de recortes de jornais. Talvez possa também servir para recuperar alguns dos "moleskines" que tenho preenchido sob o carimbo (na verdadeira acepção da palavra) de "Recortes de jornais e outras coisas mais", um exercício livre de leituras cruzadas como consta no carimbo que adquiri, há alguns anos, para marcar esses meus apontamentos. 

O maior risco de uma condutora

ilustraCão / estudo de Rita Roldão 2012

O maior risco que a deputada Glória Araújo correu na madrugada do passado dia 4 de Janeiro foi o de sofrer um acidente de graves consequências para ela e para terceiros. Felizmente, para todos, tal não aconteceu. Glória Araújo, que nesse dia completou 37 anos, não terá, certamente, sido a única pessoa a conduzir, nessa noite, com um grau de alcoolémia muito elevado. Foi, sabe-se, apanhada por uma operação stop e terá de assumir  responsabilidades pelo ocorrido, o que - tudo o indica - está a aceitar sem minimamente tentar esquivar-se a tal. Não é pois aceitável que esteja a ser massacrada publicamente como se fosse a única condutora a cometer tal infracção e muito menos que isso esteja a acontecer, como parece, por ser deputada e, até, na leitura de muitos comentários, anónimos e não anónimos, por ser deputada de um partido da oposição.

Pior que óleo de fígado de bacalhau

"Calma, é apenas um pouco tarde" / Recordando M.A.Pina

O relatório do FMI com sugestões para a refundação do Estado Português, elaborado a pedido do Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho e hoje tornado público, contempla propostas piores do que óleo de fígado de bacalhau. Cortes no subsídio do desemprego, considerado longo e elevado; Dispensa de 50 mil professores; Menos serviços de saúde e taxas moderadoras mais elevadas;  Cortes nas pensões das forças militares e paramilitares; Aumento das propinas no Ensino Superior; Despedimento dos excendentários da Função Pública ao fim de dois anos; Cortes de  salários e pensões; Subida da idade da reforma; E desinvestimento no Ensino Público. Que Deus nos la garde.

Não saiba a mão esquerda

Concreto e Vidro / Brasília 2011

Mateus, evangelista,  adverte aqueles que praticam boas acções contra a tentação de as praticarem com grande publicidade, para, diz Mateus,  serem vistas, "como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas". É dele o conselho a recomendar que, neste campo, não saiba a mão esquerda o que faz a mão direita. Mais do que nunca, importa reter que a maior dignidade humana é poupar humilhação aos outros. E é, infelizmente, tão fácil descurar estes cuidados elementares, quase sem nos apercebermos disso, nesta hora em que estamos, como devemos, a dar apoio aos que mais precisam, solidário ou caritativo.

O surpreendente náufrago Pi

Foto de divulgação do filme "A vida de Pi"

O primeiro filme a que assisti em 2013 - numa sala de cinema, entenda-se -, foi "A vida de Pi", um filme de Ang Lee,  baseado no romance homónimo de Yann Martel. Centra-se na viagem pelo Pacífico, num bote salva-vidas, dos únicos sobreviventes de um naufrágio de um cargueiro que saiu da Índia para os Estados Unidos da América - quatro animais selvagens e Pi, um jovem indiano de 16 anos filho do administrador do Jardim Zoológico de Pondicherry. Dos quatro animais selvagens - uma hiena, um orangotango, uma zebra e um tigre de Bengala - sobrevive apenas o tigre que aprende a conviver com o jovem , numa coexistência que se revelou essencial para a própria sobrevivência. Um filme recomendável.

Nos 40 anos do Expresso

Recortes de jornais e outras coisas mais / Foto JR

O jornal dos 40 anos do Expresso saiu ontem, pois o Expresso sai aos sábados, embora o primeiro sábado de 1973 tenha calhado a 6 de Janeiro, Dia de Reis. Continua brilhante, apesar de quarentão, como aliás se vê pela capa que Julião Sarmento desenhou para a Revista nº 2097, a da efeméride. Nesta nota, envio para todos os companheiros das aventuras dos jornais que de momento navegam sob a bandeira do Expresso - ao cuidado do meu amigo Marco Grieco por ser, neste universo, aquele com quem estarei mais à vontade - votos de continuação de bom trabalho.

Votos menos desapercebidos

Luar de Castro Verde / Foto JR

Este ano, deliberadamente, deixei para as calendas dos Reis, o envio dos cartões de Boas Festas devidos aos meus clientes. Cartões electrónicos, entenda-se - não há dinheiro para outros. Neles, em nome da Multidiscursos, irei desejar que os clientes da empresa possam viver todos os dias do presente ano de 2013 como reis numa Noite de Reis e que a própria Multidiscursos possa continuar a servi-los com o profissionalismo habitual. Relegar este envio para o fim deste ciclo festivo pode fazer a diferença no tsunami de votos de Boas Festas que envolve o mundo das empresas. Pode fazer com que os meus votos passem menos desapercebidos.

Uma biografia desautorizada

Banco da Clepsidra / foto Tiago Roldão

Gostava de escrever uma biografia, preferencialmente uma biografia desautorizada de alguém que verdadeiramente não exista. Num parêntesis devo lembrar que este espaço é um arquivo de fichas com notas pessoais a que eu tento dar alguma unidade, pelo menos formal, e alguma aparência mínima com algum género literário, passe a imodéstia. Mas às vezes, estas notas são mesmo apenas isso, notas pessoais da memória presente a que poderei sempre voltar no caso para conferir alguns dos meus projectos para 2013. Ou talvez não, como sempre.

Uma vila que perdeu a identidade

Perda de identidade / carimbo emprestado 2013

Chegou hoje, pelo correio, a carta que enviara a mim mesmo no primeiro dia do ano e que colocara na Estação dos Correios da Vila do Gerês para que trouxesse o carimbo local dos correios. Também enviei à minha filha, no mesmo dia e pela mesma via, um postal que eu próprio aguarelei, como faço muitas vezes, e que também queria carimbado na Vila do Gerês, onde o escrevi e de onde o enviei. Carta e postal chegaram aos respectivos destinos carimbados mas estranhamente com um carimbo de Vieira do Minho. Há vilas que também perdem a identidade e como eu as compreendo.

No rescaldo do fim-de-ano

Cópia a químico de carta de 1942 / Foto JR

Sob o título "Copiador", descobri na "biblioteca" do Hotel Águas do Gerês, neste fim-de-ano, uma compilação encadernada de cópias de cartas, obtidas a químico, que mostram a dimensão das mudanças ocorridas em Portugal no século XX. Registo, com uma curiosidade que me fez fotografar a cópia, uma carta escrita no Porto, a 7 de Abril de 1942, a requerer duas caixas com garrafas de água e a recomendar, ao mesmo tempo, lavagens cuidadosas para que as garrafas requeridas não apresentassem impurezas. Ainda há muitos portugueses vivos que são testemunhas destas enormes mudanças.

Uma fotografia com 25 anos

Aguarela de quarto de hotel / JR 2012

O ano apanhou-me no Hotel das Águas do Gerês, numa passagem de ano com uma boa relação preço/qualidade. Salvo para quem vai em grupo, a maioria dos clientes destes programas não se conhecem, mas às vezes, por inesperada coincidência, reencontram-se conhecidos. Eu reencontrei três companheiros de antigas aventuras dos jornais, entre os quais um reporter fotográfico de renome, entretanto também a dedicar-se ao ensino da fotografia, que foi quem "tirou", há mais de 25 anos, no Castelo de Montemor-o-Velho, a primeira fotografia do meu filho Tiago, ainda na barriga da mãe. E foi bom confirmar que ainda cá estamos e que ainda temos memória.