arquivo > novembro de 2015

Andar para trás é muito perigoso

Aeroporto da Horta 1999 / foto JR

Ainda sem dominar a máquina do tempo que tenho utilizado, fui parar aos Açores de 1999 e não a Paris de 1988 como ontem pretendia. Recuei menos onze anos - andar para trás é sempre muito perigoso. Por sorte, aterrei numa visita do Presidente Jorge Sampaio aos Açores que muito gostei de reportar como jornalista. Ainda guardo algumas fotos (analógicas) inéditas e alguns apontamentos de viagem recolhidos a pensar noutras prosas, menos jornalísticas, que têm sido sistematicamente adiadas. Talvez o professor António Nóvoa venha a agendar uma visita oficial aos Açores, já no primeiro mandato (a minha confiança na eleição dele para Presidente é inabalável), e eu encontre, nessa digressão, mesmo seguindo-a à distância, um pretexto para ressuscitar aquele projecto antigo.

Viajar no tempo e talvez voltar a 1988

máquina do tempo (pormenor) JR / 2015

Num dia de Setembro de 1988, em Paris, num restaurante da zona da Ópera onde fui almoçar, o meu suposto mau aspecto, de barba por fazer por não ter obrigações que exigissem andar escanhoado, transformou-me num suspeito, tipo suspeito habitual, aos olhos dos clientes que já se encontravam no local e que interromperam as respectivas conversas quando me viram entrar. Na véspera terá deflagrado na sede da polícia parisiense um engenho explosivo artesanal e o medo instalara-se. Valeu-me o expediente de colocar sobre a mesa, de forma bem visível, a minha identificação como  jornalista -  a menina que me atendia sorriu e suspirou de alívio, aliviando o resto da sala.

Queremos, de novo, notícias da guerra

"Cinclistas", carimbos e esferográfica / JR

Queremos de novo // que os nossos jornais nos tragam // notícias da guerra. // //
Queremos saber, // de fonte certa e segura, // se estamos na frente. //

Hoje, foram precisos dois haicais para traduzir as angústias deste tempo neste lugar. JR

Copacabana de Barnaby Hall

Copacabana nas fotos de Barnaby (pormenor)

Um conjunto de quinze fotografias que Barnaby Hall captou numa janela com vistas para a Praia de Copacabana é um dos trabalhos que justificam a visita à exposição colectiva "Estímulos Contemporâneos - Poesia Visual" patente no Porto, na Fundação Escultor José Rodrigues, até 27 de Fevereiro de 2016. Na Fundação e no mesmo período estão ainda patentes as exposições "Retrato de uma Amizade" (de Eugénio de Andrade e José Rodrigues) e "Artistas e Poetas à procura de uma casa para o menino Jesus". A abertura destas três exposições ficou positivamente marcada pela inesperada mas natural presença do professor Sampaio da Nóvoa. Como escrevi noutro espaço, um bom Presidente, como espero que ele venha a ser, deve, naturalmente e sem projecções artificiais, incluir as artes e a cultura no nível dado às principais necessidades de um povo e de uma nação.

Esta vontade de ser manda chuva

Yellowcab NYCity

Numa instalação, já vista em Londres, New York e Shanghai, desenvolvida por artistas e técnicos aos serviço da Hyundai, recriou-se, numa área susceptível de ser apresentada em museus, uma espécie de tunel onde chove permanentemente mas onde a passagem de um ser vivo faz abrir clareiras. Mesmo considerando os salpicos que esta chuva poderá deixar cair sobre quem ali passe, julgo impossível de superar a sensação de ficar todo molhado e de chapinhar na água, sob uma chuva tropical. Menos tecnologicamente sofisticado é o desafio, para salas de espectáculos preferencialmente pequenas, que os músicos Naná de Vasconcelos e Lui Coimbra fazem, com grande efeito, quando projectam imagens do Rio Amazonas e convidam os espectadores a bater palmas a um ritmo previamente ensaiado - parece mesmo que estamos a navegar no Amazonas à chuva. É bem verdade que nascemos da água.

"Diamonds are a girl's best friend"

recriação da estrutura molecular do diamante

O milagre da transformação rápida e já competitiva do carvão em diamantes de elevado quilate está hoje na primeira página da edição europeia do International New York Times e resultará da implantação de átomos de carvão num cenário de plasma super energético. Nanotecnologia, parece, a alimentar esperanças sem limites.