Lamas ventrais do Génesis

Douro

A quem pertence aquele olhar, cravado numa máscara de ouro, com a elegância de um nariz em alto relevo, ou seja, para dentro, como se não existisse e como se a sua inexistência pudesse anular o cheiro a morte que emana das lágrimas angolanas dos anos 60 do século passado, lágrimas recolhidas pelo escultor José Rodrigues, agora finalmente expostas para prender muitos novos olhares, incluindo o olhar daquela máscara? Talvez num percurso mais intuitivo para quem entra pela porta da frente do Convento, aquelas lágrimas antecedam as criaturas em barro que o escultor arrancou, nas palavras de César Príncipe, às lamas ventrais do Génesis. criando criaturas à sua imagem e semelhança, assim geradas, mais do que criadas como na oração, por ter esse ofício do artista escultor, ofício que, sem sombras de blasfémia, está muito próximo do de Deus.