Não param de tentar vender-nos burros
19.mar.2013, Dia do Pai, dia de comprar livros como "Um Pai de Filme" do chileno António Skármeta

Hoje estive no Parque Mayer, 40 anos depois de ali ter actuado, integrado no elenco do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) que em 1973 levou à cena "O Asno", peça de José Ruibal, encenada por Fernando Gusmão. Eu representava o papel de um adolescente que vendia azeitonas pelas ruas da cidade e que acabou mobilizado para uma guerra (de subjugação colonial) onde viria a morrer. Se a memória não me falha, o TEUC, nessa deslocação a Lisboa, muito pouco aplaudida pela crítica que não valorizou minimamente as contingências da acção de um grupo de teatro universitário a viver num regime político sem liberdade de expressão, actuou no Teatro Variedades, um teatro que atravessou quase todo o século XX e que ainda resiste, pelo menos como memória arquitectónica e como memória de um teatro que durante dezenas de anos tentou divertir o público, quase sempre enfrentando a Censura aos textos e às próprias encenações, com as dificuldades causadas pela perda de muito dinheiro se os espectáculos eram proibidos. Voltando ao Asno, recordo que a cabeça de cartaz desta peça de José Ruibal era um burro electrónico que um gigantesco Tio Sam tentava impingir aos portugueses. Quarenta anos depois, ainda há quem continua a querer vender-nos alguns burros.