Um copo de cerveja que nunca viu cerveja

"Aqui longe do Sol que mais farei // Senão cantar o bafo que me aquece ? // (...)

Partiu-se o penúltimo copo de cerveja da Erdinger que tinha trazido de Munique como lembrança do dia da inauguração do novo aeroporto. Esses copos têm gravada a data de 12 de Maio de 1992, dia central de uma semana de festa para as centenas de jornalistas convidados pela Lufthansa. Eram mais os jornalistas presentes nos festejos do que os manifestantes alemães que ensaiaram protestos contra o impacto ambiental que o novo aeroporto causava na região. Lembro-me de ter sido um dos poucos convidados (admito, sem certeza, ter sido o único) a comparecer a uma programada, mas pouco concorrida, visita guiada para jornalistas ao Museu da Ciência de Munique. E lembro-me também de ter testemunhado, com alguma perplexidade, a ofensa que o director do museu sentiu por tanta ausência. Desse museu retenho a imagem, para mim impressionante, de um pêndulo de Foucault. Dessa viagem resta ainda um copo de cerveja, que nunca viu cerveja na vida e que serve para guardar pincéis para aguarela e para caligrafia chinesa.