Recortes de leituras em papel timbrado

mapa mundo, JR (pormenor)

A areia da marca que seu pé deixou, como no testemunho do poeta angolano Viriato da Cruz, cabe numa folha de papel A4. Ela entrou descalça, qual Cinderela à procura da havaiana perdida, e pisou um dos A4 do manuscrito do meu mais recente romance, exemplar único, em folhas soltas, que eu espalhara pelo chão para melhor as ordenar. A sétima página ficou bem marcada pela areia húmida que ela trazia colada na planta do pé e deixou de ser um manuscrito de um candidato a escritor sem editor para se transformar numa obra de expressão plástica. A trabalhar, mas já uma obra prima de expressão plástica atravessada por palavras manuscritas na tinta permanente que gosto de usar, palavras que entretanto, com a humidade, esborrataram e deixaram de ser legíveis. Palavras que, na verdade, deixaram de ser necessárias.